Criança gay e a educação física na escola: os traumas do futebol
Criança gay na escola sofre. Tem os colegas que identificam sua orientação desde cedo e já começam a cometer bullying dentro e fora da sala, não te chamam pros grupos de trabalho, não sentam do seu lado, o ignoram no “recreio” (o intervalo das aulas).
Tem os professores que, por vezes, não sabem lidar com a orientação e os processos de descoberta daquela criança e permite que outros colegas cometam bullying, e por vezes eles mesmos, professores, são os responsáveis. E tem a educação física.
Ah, a maldita educação física, nos idos anos 1980, era uma matéria obrigatória no currículo escolar. Os alunos levavam uma farda na mochila para se trocar e passar 45 minutos sofridos praticando um esporte ao qual, em geral, não se identificavam.
Aí começava uma nova etapa de enfrentamento, o de tentar arrumar desculpas para não participar do mais machista e excludente esporte de todos: o futebol. No meu caso, qualquer esporte se tornava um terror, porque eu tinha medo de bola até os 12 anos.
Um episódio que marcou minha vida foi como minha mãe tentou resolver esse problema indo à escola falar com o professor sob a justificativa de que eu deveria fazer “ginástica” e não jogar bola, que jogar bola não era atividade escolar (risos, lágrimas), e prontamente, o professor assim acatou a ideia da minha mãe.
Sozinho, eu fazia a atividade de exercícios físicos no ginásio da escola, mas com uma plateia de centenas de alunos me olhando, como se eu fosse uma atração de circo. Aqueles 45 minutos mais pareciam 45 dias, foi mais humilhante que se tivesse que tentar jogar o famigerado futebol na quadra com os meninos (que nunca me queriam no time).
Traumas superado, este vídeo é uma história sobre como a gente pode, e deve, aprender com o passado e ensinar mães jovens de hoje que têm filhos gays e como a luta de cada um pode ser a luta de cada um sem interferências externas, mas uma observação até que a interferência seja, de fato, necessária.
Marcio Rolim é editor de conteúdo do Hornet e do site Observatório G para os quais já escreveu mais de 3 mil artigos de sobre comportamento LGBTQIA+ e também produz conteúdo para o canal Bee40tona no Instagram e no YouTube.